5.04.2011

República Dominicana: o Brasil Caribenho

Fotos Seth KugelAno passado, estava lendo o jornal e vi que a CVC estava oferecendo um pacote para a República Dominicana, esse pequeno país hispânico que divide uma ilha caribenha com o Haiti.
“Brasileiros na República Dominicana”, pensei. Que ótima… E péssima ideia.
Playa Encuentro em Cabarete
Ótima porque o país é lindo e verde e tem praias e montanhas de sobra. E o povo dominicano é muito alegre, gentil com os turistas, tem um dom musical, adora dançar e não tolera uma refeição sem arroz e feijão.  Ou seja: são brasileiros caribenhos (e isso sem falar de sua mistura africana-índia-europeia, da história de ditadura militar, da indústria açucareira e de outras mil semelhanças.)
Péssima porque o pacote anunciado te leva para Punta Cana, a região menos “dominicana” da República Dominicana. Há quatro décadas, esta área era praticamente deserta, com praias virgens e poucos habitantes. Nem se chamava Punta Cana. Alguns empresários descobriram esse pequeno paraíso sobrevoando a região de helicóptero –  na época, não existia Google Earth – e começaram a construir resorts. E mais resorts. Tantos resorts que é possível ir do aeroporto de Punta Cana a alguns deles sem enxergar uma só casa habitada por um dominicano. Perfeito, talvez, para um nova-iorquino que quer escapar da neve em quatro horas de voo. Mas vale a pena para um brasileiro viajar mais de 12 horas só para relaxar numa praia bonita? E para que existe Ubatuba, Búzios, Floripa e Costa de Sauípe? Pela mesma quantia é possível ir para Fernando de Noronha, pelo amor de Deus.
A solução, claro, é montar seu próprio itinerário.
Passei o último réveillon na costa norte do país, perto da cidade de Puerto Plata, com três amigos americanos. Ficamos hospedados no Barefoot Beach Pad, vendidos como hotel. Na verdade, são apartamentos limpos e confortáveis à beira-mar que custam menos de R$200 por noite e ficam perto da cidadezinha de Cabarete, conhecida pelo vento e pelo surf. A escolha foi do meu amigo Tom, que queria aprender kitesurfing.
Eu cheguei com outras prioridades: comida, praia e música.


COMIDA

A comida dominicana se parece, à primeira vista, com a cozinha brasileira.  O prato mais típico é carne acompanhada de arroz, feijão e salada. Frutas tropicais como mamão e maracujá são comuns, assim como a mandioca (só que se chama “yuca”). Até os pastéis, que nos outros países hispânicos se chamam  “empanadas”, aqui são “pastelitos”. Fácil, né?
Lagosta, pescado e tostones em Playa Grande
Fotos Seth KugelClaro que os temperos são diferentes e há iguarias locais como os “tostones” – bananas-da-terra fritas, prensadas e fritas de novo. Não esqueça o sal e o ketchup, ou, como dizem os dominicanos, “catchú”.
Cabarete é uma cidade muito turística, mas apesar dos restaurantes e lanchonetes que ofereciam desde hamburgueres até sushi, encontramos um lugar simpático, simples e barato de comida dominicana: Sandro’s.
O “prato do dia” no Sandro’s –um guisado de porco acompanhado de arroz, feijão e salada de repolho com abacate – custava cerca de 150 pesos (R$ 6). Vale a pena também pedir uma porção de tostones, claro.


PRAIA

Fotos Seth KugelA praia principal de Cabarete é perfeita para a prática de windsurfing de dia e para as baladas à noite. Mas existem outras praias ótimas na região.


Playa Encuentro em Cabarete
Playa Encuentro fica a dez minutos do centro, com escolas de surfing informais e uma extensa faixa de areia onde sempre é possível encontrar um ponto deserto.  As ruínas de um hotel abandonado dão um toque de mistério ao lugar e um restaurante simpático, Chez Arsenio, vende sanduíches para comer sob as palmeiras.
Um pouco mais longe – 45 minutos de carro, na cidade de Rio San Juan – fica Playa Grande. Além de ser grande (óbvio), a praia possui uma associação de vendedores que fazem de tudo: assim que você chega ao local, eles já avisam para não estacionar o carro sob os coqueiros (para evitar danos causados por cocos) e, em seguida, alugam cadeiras (“cheilones”, do francês “chaise longue”). Na hora de almoço, os vendedores oferecem lagostas e peixes grelhados na hora. E a qualquer hora, peça “una verde” – uma cerveja Presidente muuuuuito gelada, em garrafa verde.


MÚSICA

Fotos Seth KugelE, por favor, não se deixe seduzir pela  música eletrônica e pop das discotecas da praia de Cabarete (os lugares perfeitos para conhecer mochileiros dinamarqueses com dreadlocks etc.). Vá conhecer a verdadeira música dominicana.
Apesar de contar com uma pequena população de 10 milhões de habitantes, a República Dominicana exerce uma enorme influência musical sobre a América Latina. Os dominicanos são responsáveis por dois dos gêneros mais ouvidos no mundo hispânico: merengue e bachata. Infelizmente, são pouco conhecidos no Brasil, mas há uma bachata famosa que virou um sucesso em sua versão brasileira (lembram do Fagner?).
Vale a pena se familiarizar com os ritmos musicais antes de viajar. E graças ao YouTube, isso é fácil. Para o merengue, procure os clássicos de Juan Luis Guerra e Sergio Vargas, ou a versão urbana do grupo Omega. Na bachata, um gênero mais romântico (e meio brega), há o Joe Veras e a banda Aventura. A banda dominicana é famosa na Europa e eu até ouvi uma de suas músicas em Manaus, mas só os caribenhos sabem dançar corretamente.
Em qualquer cidade da República Dominicana, você pode ir a uma discoteca local para dançar. Mas o país é tão pequeno que não é raro encontrar um show de um músico famoso em algum lugar perto de você. É só prestar atenção nas estradas: sempre tem cartazes simples pregados em árvores ou nos postes.

Dançando no show do Frank Reyes
Lá em Cabarete, saímos duas vezes para ouvir música ao vivo. A primeira vez foi na virada do ano. Seguindo a dica de uma amiga dominicana que mora em Nova York, deixamos os turistas em Cabarate para trás e fomos ao Rancho Típico Puerto Plata. Fomos os únicos estrangeiros entre mais de 500 dominicanos, a maioria sentada em grupos de família, bebendo rum ou refrigerante sob um teto de palha e madeira. A banda tocou merengue típico e dançamos com as tias, filhas e primas da família ao nosso lado.
Pelos cartazes ficamos sabendo que no dia seguinte Frank Reyes (meu bachatero favorito!) daria um show em outro local de Puerto Plata. Convenci meus amigos (que nunca tinham ouvido falar do tal Frank Reyes) que valia a pena pagar 1000 pesos (R$43) para ir ao show. Frank atrasou muito, chegando só depois da 1h, mas assim que ele entrou em cena, a noite foi um espetáculo – não tanto no palco, mas na pista, com o público cantando, gritando, tirando fotos ou dançando os sucessos “Nada de nada” e “Princesa”. Até meu amigo Adam, que não dança nem sob tortura, se animou e dançou algumas músicas com umas dominicanas muito pacientes.

*

Mas você não precisa ir para Cabarete e Puerto Plata.
Vale a pena ficar um dia na capital, Santo Domingo, a única verdadeira metrópole do país, para visitar os museus, as praças e o prédio onde morou o filho de Cristóvão Colombo, Diogo, na época em que ele foi vice-rei das Índias de Castela.
Mas é preciso também sair da cidade e nem pense em se limitar às praias mais próximas. O país é muito pequeno. Recomendo pegar a nova estrada para a península verde de Samaná, com hotéis pequenos e praias lindas. Entre janeiro e março, há excursões para observações de baleias. Outra dica é conhecer as cidades de Constanza e Jarabacao, nas montanhas. Ou sair totalmente do roteiros turísticos e visitar o noroeste do país, onde levei meus três amigos após três dias em Cabarate, em busca de praias desertas e a especialidade da região, chivo picante (cabra apimentada).
Mas onde quer que você esteja, não se esqueça de procurar os cartazes à beira da estrada para saber os melhores lugares para dançar.
Autor: Seth Kugel

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